Uma nova geração de equipamentos de radioterapia, conhecidos por IGRT (radioterapia guiada por imagem, na sigla em inglês), vem permitindo evitar cirurgias e diminuir efeitos colaterais do tratamento. A técnica consegue irradiar as células doentes preservando ao máximo os tecidos saudáveis.
Esses equipamentos já estão disponíveis em centros de excelência como os hospitais Sírio-Libanês e Albert Einstein, em São Paulo. Em poucos meses, duas instituições públicas devem oferecer o tratamento aos seus pacientes: o Inca (Instituto Nacional de Câncer), no Rio de Janeiro, e o Icesp (Instituto do Câncer do Estado de São Paulo Octavio Frias de Oliveira), em São Paulo.
Aliados ao avanço nas técnicas de imagem, os novos aparelhos permitem visualizar, em tempo real, onde o tumor está. Eles levam em conta, inclusive, os movimentos da respiração do paciente.
Segundo Maria Aparecida Maia, diretora da radioterapia do Hospital A. C. Camargo, em São Paulo, trata-se de um equipamento que acompanha a movimentação do tumor a ser tratado. "Por isso, a mira é melhor, mais precisa, e isso diminui sequelas", explica Maia.
"Isso assegura que a dose chegue no lugar certo", diz o radioterapeuta Eduardo Weltman, do programa de oncologia do hospital Albert Einstein.
Dessa forma, é possível usar doses de radiação muito maiores em alvos cada vez mais específicos, num tempo menor.
Tratamento mais curto
"Como o grau de acerto é altíssimo, viabiliza tratamentos mais curtos. É possível, por exemplo, tratar um tumor de até quatro centímetros no pulmão em três dias, quando o padrão até então são de seis a sete semanas", exemplifica João Luís Fernandes, coordenador do Serviço de Radioterapia do Hospital Sírio-Libanês.
Tumores de próstata podem ser tratados sem causar lesões no reto, por exemplo. Um câncer localizado próximo à medula espinhal pode ser irradiado com um risco mínimo de sequelas neurológicas (uma cirurgia nessa região poderia causar danos à medula).
Além de diminuir os efeitos colaterais, isso pode evitar cirurgias, particularmente em regiões em que a respiração movimenta o tumor, como pulmões, fígado, pâncreas e até mesmo a próstata, que está sujeita a movimentações nos órgãos vizinhos, como a bexiga. "Esses órgãos ainda podem ser operados, mas são novas opções principalmente para os pacientes que possam ter fatores que dificultem a cirurgia", diz João Luís Fernandes.
Além disso, os aparelhos permitem diminuir a margem de segurança, usada tradicionalmente numa radioterapia. Com os equipamentos convencionais, o médico irradia uma área maior para garantir que nenhuma célula doente fique sem radiação.
Outro avanço é que a radiação consegue acompanhar, com uma fidelidade cada vez maior, o formato do tumor, que pode ser muito variado.
Paulo Hoff, diretor clínico do Icesp, lembra que nem todo tumor precisa ser tratado com esses aparelhos tão sofisticados. "Alguns tumores -de osso, por exemplo- não estão tão próximos a tecidos muito sensíveis."
Irradiar centro do peito ainda não é consenso
Um estudo francês apresentado em novembro, que acompanhou 1.334 mulheres ao longo de dez anos, sugeriu que a radioterapia na cadeia mamária interna (área central do peito) após a mastectomia não aumenta a sobrevida em tumores de mama em estágio inicial.
No Brasil, mulheres com tumores avançados, com muitos gânglios comprometidos, recebem a radioterapia profilática na cadeia interna da mama. No entanto, ainda não há consenso sobre tumores menores. Segundo especialistas, em muitos serviços ela não é feita nesses casos pois já se sabia que, em tumores iniciais, não traz impacto na sobrevida. Outros centros, porém, fazem a radioterapia preventivamente nesses tumores.
Nas situações em que há indicação de se irradiar a cadeia mamária interna, técnicas modernas como a radioterapia com intensidade modulada, conhecida pela sigla IMRT, que controla melhor o feixe de radiação, são muito úteis para proteger o coração, por exemplo. (GC)
Fonte: Folha de São Paulo 12 de dezembro de 2009